22.2.07

agradeço o privilégio
de ter convivido com voce meu filho
com voce meu pai
e ter conhecido assim
a alegria e a generosidade

agradeço o privilégio
de poder ver a quase silhueta
da cidade e do porto
entre tons de vermelho, preto, azul, cinza
e marinheiros perfilados ao navio

agradeço a felicidade
de ver as transparencias
de ouvir os encantos

agradeço o encanto
de meus filhos, de minha mãe
e de amar, assim, sempre
mater dolorosa
mater amantissima
minha mãe querida
sempre o sorriso, sempre suave
sempre presnte
pietá talhada no mármore branco
minha mãe carrega no colo sua filha
pietá pintada, cores tão escuras
minha mãe tem no colo seu filho amado
mater dolorosa, mater amantissima
sempre um sorriso,
no abraço sempre aberto
ou no canto dos olhos
e ao seu redor nos sentamos nós
o olhar pode se encantar
com o perceber as cores
o olhar deve se encantar
a cada momento

e então ser saboreado
lentamente
como fruto colhido do pé
quero as cidades azuis e as cor de brique,
(outro dia ouvi dizerem que a França é cinza)
quero lugares de todas as cores
algaravia das ruas e dos cheiros
mas enquanto não vêm
vou sonhando, sonhando
e criando minhas terras longínquas
volto finalmente a exercitar o sonho
acordo de manhã
com fiapos de sonho em torno do corpo dolorido
tento o primeiro passo
lembrar do pentimento ou de qualquer migalha
depois
tentar escrever
e finalmente encerrar o ciclo diário de pequenas lembranças
2007 quase 2010
passamos a taprobana dos anos
e continuamos a chorar
o abandono, a traição
o amor partido
continuamos meninas
brincando de roda, de boneca de papel
de jogar bola
e a chorar pelo menino
que nem viu
que alguém olhava pra ele
a perda me ensinou uma geografia
onde coloco no espaço e no tempo
aqueles que perdi e os que estavam a meu lado
no momento da perda

na porta que se abre
na sala na penumbra
aparece o seu corpo torneado a cinzel
nem o homem nem o corpo
têm voz
apenas a forma
que invade o espaço
e faz a permanencia do silencio